Para qualquer membro das gerações seguintes a missão de suceder o Fundador no comando de uma empresa é sempre muito difícil. A tarefa é ainda mais desafiadora quando os empreendedores que iniciaram o negócio foram corajosos, assumiram riscos, foram determinados e construíram uma história.
Muitas vezes o fundador (a) é autoritário, centralizador, figura forte e carismática, envolvente e conta com o respeito de toda empresa e da família. Essas características importantes e que foram decisivas para trazer a organização para o momento atual, podem gerar obstáculos que dificultam o processo de sucessão.
Sou membro da 2ª geração de uma família empresária, e vivenciei todos os desafios e emoções inerentes a este chapéu. Recentemente, ajudando outras empresas familiares a passarem de forma inteligente por este processo e entrevistando muitos sucessores durante os programas de sucessão que realizo, percebi que existem algumas “dores” comuns entre todos nós.
Ser filho do “dono” é um rótulo pesado que carregamos, e quase sempre as pessoas questionam nossas capacidades e competências. Ser validado e reconhecido pelo fundador, que também veste o chapéu de pai ou mãe é mais que um desejo, é quase uma necessidade. O problema é que somos excelentes em apontar falhas e cobrar, mas muito amadores quando o assunto é reconhecer e elogiar. Com membros da família muitas vezes é ainda pior.
Há ainda o peso da obrigação de sermos iguais ou melhores que nosso antecessor. Será que não podemos apenas ser diferentes?
Ouvi vários relatos de jovens que trabalham na empresa da família, com o desafio de conquistar o “mesmo” respeito que o fundador tem perante os colaboradores, fornecedores e clientes. Alguns sucessores também se cobram de manter os gráficos subindo, continuar o negócio, não decepcionar.
Assumir o leme, encarar um processo de transição nunca é fácil. Muitas vezes precisamos desmontar alguns preceitos que haviam regido a empresa desde sua fundação. Temos que encerrar um ciclo para começar a escrever um novo capitulo, com novas estratégias, prioridades, abrindo as portas para novas tecnologias, novos talentos, novas parcerias. Afinal, o contexto não é mais o mesmo.
Com intuito de ajudar os sucessores e provocar algumas reflexões, compartilho abaixo alguns aprendizados práticos e dicas:
- Amor e admiração é o que gera o desejo de perpetuar, de fazer parte de continuar um legado.
- Tenha orgulho de tudo que foi construído, valorize a história da sua família, do fundador. Seja grato por tudo que fizeram por você e pela chance de contribuir.
- CHEGA DE FALAR EM SUCESSÃO. Vamos falar em CONTINUIDADE. Foco em continuar o negócio e manter a harmonia entre os familiares. As gerações mais novas precisam ser mais humildes e devem aprender com quem tem mais experiência.
- Tenha paciência. Não queime etapas, não atropele as coisas. Precisamos de tempo para crescer, para ganhar confiança, autonomia. Entenda que seus pais foram criados em outro ambiente e possuem mindset diferente do seu, pois viveram desafios e situações distintas.
- Ofereça AJUDA e não crítica. Não chegue querendo mudar tudo, apontando somente o que está errado (na sua visão!). Deixe claro que você está lá para ajudar, para construir. Pergunte como pode aprender e colaborar.
- Respeite seu perfil. Seja quem você realmente é, e não quem as pessoas querem que você seja. Não carregue a responsabilidade de ser como o fundador foi, não se cobre tanto. Somos diferentes, somos únicos. Procure se autoconhecer, entenda seus pontos fortes e fracos, busque desenvolvimento. Crie sua própria história sempre valorizando, respeitando e sendo grato pelos seus antecessores.
Acredito na parceria entre as gerações, que fortalecem a identidade da família e cuidam dos negócios juntas. Cabe as gerações mais novas criar canais de comunicação adequados para que todos estejam alinhados, focados e com energia na mesma direção.
Como sempre digo, orgulho do passado, foco no presente e olho no futuro.
Thiago Salgado
Fundador da Família S.A.