Familiar como sócio: é possível!

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Neste ambiente não é raro que se misture as relações e os interesses empresariais, profissionais e familiares de forma a criar tensão nas relações pessoais.

O mundo empresarial é, historicamente, ligado ao ambiente e às relações familiares. Ainda hoje a grande maioria das empresas existentes foi constituída por membros de uma ou mais famílias, tanto na sua composição societária, como também atuando no trabalho do dia a dia desses negócios.

Neste ambiente não é raro que se misture as relações e os interesses empresariais, profissionais e familiares de forma a criar tensão nas relações pessoais que, se não bem cuidados e tratados, podem se transformar em conflitos que envolvem todas essas dimensões de relacionamentos.

Porém, isso não é um motivo para impedir que essa parceria seja feita! Na realidade, existem diversas pesquisas que comprovam que as relações familiares alavancam o empreendedorismo em todos os países e setores da economia. Em uma delas, a informação é de que mais de 80% das empresas no mundo são controladas por famílias!

Isso não é por acaso: a relação de confiança, naturalmente presente entre familiares, é uma das principais motivações para a junção entre família e negócios. Este atributo, inclusive, traz para os empresários mais segurança nas relações de negócio. Por outro lado, é importante colocar sempre em primeiro lugar a competência e o profissionalismo acima de qualquer laço familiar. Caso contrário, pode ser que essas relações sejam fonte de limitação para o desenvolvimento dos negócios!

Pensando em ajudar sua empresa familiar a traçar o caminho mais certeiro rumo ao sucesso, separei 7 pontos que exigem um cuidado extra ao tratar:

  1. Nunca use recursos da empresa para necessidades pessoais

Você pode até achar que não é nada demais, não custa nada, “é rapidinho”, mas… Pedir para um colaborador da sua empresa realizar um pagamento de despesa pessoal (por exemplo) da sua família empresária pode ser perigoso. Além de criar um sentimento de privilégio aos colaboradores que estão mais “próximos” à família, e consequentemente uma sensação de injustiça ou inferioridade dos outros funcionários, o uso indevido de recursos pode trazer perda de performance. Mantenha atenção e saiba separar o que é da empresa do que é da família!

  1. Não pratique o “nepotismo”

No dicionário, um dos significados de “nepotismo” é: “preferência por; favoritismo, proteção.”. E esse deve ser um dos pontos que você mais deve evitar: fazer negócios com outras pessoas da família, fora das regras comerciais da empresa. Quando você abre uma “exceção”, ou prefere um fornecedor apenas pelo fato dele ser da família, e não pela sua competência, você pode estar os beneficiando, ao invés de pensar no melhor para a sua empresa. E isso não é saudável para os seus negócios – muito menos para a família, pois os problemas que essa decisão pode causar em um futuro próximo, são inúmeros!

  1. Trate a todos como colaboradores e não familiares!

Para o bom funcionamento da sua empresa familiar, estabeleça uma regra universal: familiares sempre deverão ser tratados como colaboradores. Inclusive seus filhos e netos! Mantenha-os sempre dentro da política da empresa, plano de cargos e salários, avaliação de desempenho… ninguém deve ser privilegiado por possuir laços de sangue com os donos! 

  1. Deixe os assuntos de trabalho no trabalho!

É de extrema importância que a relação familiar seja preservada! Não transforme os almoços e outros encontros com parentes em reuniões de trabalho. Isso pode abrir espaço para que pessoas que não trabalham na empresa deem opiniões, podendo causar situações desagradáveis. Sem contar que, quando nos reunimos com a família em um final de semana ou em um jantar, a ideia é conversarmos sobre qualquer outra coisa, menos trabalho, não é?

  1. Registre sempre o que é conversado e decidido

Em uma empresa familiar, é comum que os donos desenvolvam um jeito particular de gerir os negócios, sem muitas “formalidades”. Mas a tão famosa “formalidade” é muito importante para evitar impasses nas decisões e facilitar o encontro de soluções quando existem discordâncias – além de evitar, também, a centralização de todas as decisões nos donos, gerando uma equipe extremamente dependente, sem autonomia. Por isso, crie processos que organizem e facilitem o controle e administração da sua empresa. Isso facilitará desde a tomada de decisões mais simples, até às mais complexas!

  1. Conheça – e domine – as necessidades de todas as áreas de sua empresa

É claro que todos temos certa afinidade com áreas da empresa – alguns gostam mais de ter contato com o público, outros menos; alguns preferem a área financeira, outros a comunicação, e por aí vai. Mas, principalmente em uma empresa familiar, é importante que os sócios conheçam e dominem as necessidades de todas as áreas da empresa. Dessa forma, nenhuma área será dependente de um único sócio e, mais importante ainda: não haverá conflitos entre as áreas, como se apenas um sócio pudesse gerir uma área e o outro não devesse “invadir” seu espaço. Crie dinâmicas que possibilitem o “job rotation” da equipe de gestão, isso certamente o ajudará.

  1. Seja flexível e aberto a novos modelos e práticas de gestão

Quando o gestor assume que somente seu modo de gerir é o que “serve” para sua empresa, temos um problema. E dos grandes! Isso pode fazer com que sua empresa não aceite novidades, ideias diferentes e, portanto, não evolua. As chances de uma ideia diferente dar errado, são as mesmas de dar certo! Confie na sua equipe, estimule-os a ter ideias diferentes e, mais do que isso, esteja aberto para novas ideias. Leia livros, pesquise, visite conferências sobre inovação e descubra como práticas de gestão descentralizadoras e flexíveis são muito mais benéficas à empresa do que gestões inflexíveis e centralizadoras.

Para evitar todos os pontos citados acima, bem como resolver problemas já existentes, é de extrema importância que a empresa passe por um processo de profissionalização, com seu início no acordo societário, onde devem ser definidos como os donos usarão seu poder e como as coisas acontecerão dentro da empresa.

Além disso, vale reforçar que todos os membros da empresa familiar devem ser plenamente conscientes sobre seus papeis e responsabilidades. Saber separar as questões familiares das empresariais e vice-versa fará com que a família empresária tenha um crescimento sadio e constante, sempre mantendo como objetivo o bem-estar da companhia e de seus colaboradores.

Tendo como objetivo uma gestão equilibrada, você conseguirá manter viva a história de sua família, geração após geração, além de criar um ambiente fértil para formar futuros sócios e parceiros do negócio. Essas atitudes garantirão a você o perfil mais desejado no mundo das empresas familiares: a de uma pessoa que vai muito além de um simples herdeiro.

Luiz Marcatti

Especialista em empresas familiares, sócio da consultoria Mesa Corporate Governance e Conselheiro de Administração.